quinta-feira, 19 de julho de 2007

Mama África


Apresento este texto, recentemente publicado pelo yahoo.

A teoria de que o homem moderno teria sido originado a partir de um único ponto da África foi reafirmada por um novo estudo publicado nesta semana pela revista britânica Nature.

Duas correntes dividem atualmente a comunidade científica que investiga a origem do ser humano moderno.

Por um lado, o modelo "Out of Africa" afirma que o homo sapiens é originário de um único ponto do continente africano a partir do qual passou a colonizar outros continentes.

Por outro, defende-se que a evolução do homo erectus ao homo sapiens foi registrada em vários pontos do planeta, de forma independente.

Até agora, os estudos genéticos dão razão aos defensores de uma origem africana comum, mas a análise das ossadas traz resultados ambíguos.

O médico Andrea Manica e seus colegas da universidade britânica de Cambridge combinaram um estudo sobre a diversidade genética de populações de várias partes do mundo com as medidas de mais de 6.000 crânios, que permitiu trazer a prova da origem do homem moderno.

Os cientistas demonstraram que quanto mais longe se encontram as populações da África, menos é a diversidade genética, refletida por uma perda de variedade fenotípica, ou seja, de traços físicos.

"Associamos os dados genéticos com as novas medidas de uma grande mostra de crânios para demonstrar definitivamente que o homem moderno é originário de uma única região da África Subsaariana", afirmou Manica.

Para verificar a validade das descobertas, os cientistas tentaram utilizar seus dados para detectar as origens não africanas, mas o exame "não deu nenhum resultado", explicou, por sua vez, o médico François Balloux.



Um inenarrável abraço

domingo, 8 de julho de 2007

Comércio Ambulante e o espaço



Nas últimas décadas, assistimos o desenvolvimento da técnica e da ciência, em velocidade nunca antes vista. Essa reformulação, cada vez mais acelerada das técnicas e da ciência, ocasiona redefinições nas relações do homem com o espaço, com a economia e com o próprio homem. As transformações/modernizações hoje atingem a todos os setores da sociedade, de uma forma diferencial, devido ao seu caráter seletivo; mas apesar da diferenciação interna existente entre os locais/setores/regiões, atingidos, todos indiscriminadamente sofrem mudanças impostas pelas novas formas de produção/comércio/consumo, mesmo que não absorvam somente benefícios dessas mudanças.

O mercado de trabalho, certamente, sofreu diretamente os efeitos da modernização (tecnológica, social e econômica). Na década de 80, o número de desempregados aumentou tanto pela expulsão da PEA (população economicamente ativa) já inserida no mercado de trabalho, como também pela não absorção desta população recém chegada ao mercado; isso é fruto direto da crise econômica, e da tentativa de superá-la através da adoção de novas técnicas, novas políticas econômicas e sociais. Entretanto, a adoção destas novas práticas têm por base ideológica e política o neoliberalismo, tendo este um “caráter revisionista em relação às conquistas sociais obtidas pelos trabalhadores ao longo das três últimas revoluções industriais” (Cano,1994).

No Brasil, um país semi-periférico[1], a crise do emprego se manifesta de uma forma mais explícita, já que as demandas sociais nunca foram amplamente atingidas; sendo assim, cria-se mais facilmente e marcadamente divisões em relação ao consumo e à inserção no mercado de trabalho. Temos assim dois grupos: os integrados ao consumo “moderno” de uma forma ampla e o grupo que encontra-se à margem da sociedade “moderna” de consumo, obtendo e sobrevivendo com os restos, e/ou buscando novas formas de integração a um modelo de consumo.

A questão do trabalho, se agrava nos grandes centros urbanos industriais, onde se concentra a maior parte da população brasileira. Mesmo porque, na cidade os novos modelos de gestão são mais facilmente absorvidos, já que se trata do centro de controle da reprodução da sociedade capitalista em termos de força de trabalho, troca e padrões de consumo.

Os dois principais centros urbano-industriais brasileiros, Rio de Janeiro e São Paulo, apresentam mais nitidamente sintoma da chamada crise urbana: violência, inchaço, ocupação desordenada, favelização/periferização e desemprego. Esses sintomas não são recentes, porém a atual conjuntura das relações de produção marca um caminho, no qual esses problemas tendem a se agravar. Com a mesma velocidade com que as práticas modernas e flexíveis de produção, acumulação e consumo, são absorvidas pela cidade, criam-se setores excluídos, segregados e/ou parcialmente absorvidos. Dentre esses “sintomas” o desemprego assume um caráter principal e peculiar, já que a oferta de emprego não suporta a demanda populacional ( mesmo que o ritmo de crescimento tenha sofrido uma redução) .


A segregação espacial que se dá no processo de urbanização capitalista, além de distanciar o espaço de moradia do espaço de trabalho, atua primeiro através de práticas sociais que impõem maior ou menor possibilidade de acesso aos meios de consumo.

Portanto, de que forma essa população urbana, excluída dos padrões de consumo moderno, busca se integrar e sobreviver? O espaço é seletivo tanto espacialmente como socialmente, será então que essa população excluída socialmente deve se apropriar do espaço, o qual também lhe é negado, para que assim busque uma forma de integração social?

Com a mesma velocidade com que a cidade se integra, ela se fragmenta excluindo uma das partes, portanto, não é estranho compreender o aumento, nos últimos quinze anos, da parcela da população economicamente ativa na economia informal, e do processo de hipertrofia do setor terciário, sendo essa uma característica do processo urbanização periférica. Assistimos então um acréscimo no número de vendedores ambulantes (camelôs, marreteiros, etc.), que buscam através desta atividade sobreviver e atingir melhores padrões de consumo, que o possibilitem se reproduzir como trabalhadores.


Esse grupo socialmente excluído, ao buscar sua inserção econômica através da economia informal, no caso, o comércio ambulante, imprime no espaço sua marca seja pela favela, seja pelos ambulantes que ocupam os logradouros das grandes cidades, produzindo uma nova feição urbana, acrescentando novas características ao contexto urbano. A produção desse espaço é antes de mais nada uma forma, uma expressão, de resistência e ao mesmo tempo uma estratégia de sobrevivência ao contexto urbano1 que não lhe é favorável.


Um inenarrável Abraço


1 GOLDFARB, E. (1993) entende-se por contexto urbano, como sendo um conjunto de circunstâncias físicas e sociais que interferem num uso, ou seja, as ruas, as praças, os prédios, os seres humanos, não existem como elemento isolados, mas sim, como fatores de um conjunto, sendo a cidade resultante da inter-relação ativa desses fatores.

sábado, 7 de julho de 2007

Inspirado por Simas

Após ter relido o texto que meu irmão, Luiz Antônio Simas, escreveu sobre Eleguá, me senti motivado a fazer o mesmo. Entretanto me falta o necessário trato com as letras para tal, sendo assim, me lembrei desta maravilhosa obra de Mario Cravo .

EXU PARA JORGE AMADO
 
NÃO SOU PRETO, BRANCO OU VERMELHO
TENHO AS CORES E FORMAS QUE QUISER.
NÃO SOU DIABO NEM SANTO, SOU EXU!
MANDO E DESMANDO,
TRAÇO E RISCO
FAÇO E DESFAÇO.
ESTOU E NÃO VOU
TIRO E NÃO DOU.
SOU EXU.
PASSO E CRUZO
TRAÇO, MISTURO E ARRASTO O PÉ
SOU REBOLIÇO E ALEGRIA
RODO, TIRO E BOTO,
JOGO E FAÇO FÉ.
SOU NUVEM, VENTO E POEIRA
QUANDO QUERO, HOMEM E MULHER
SOU DAS PRAIAS, E DA MARÉ.
OCUPO TODOS OS CANTOS.
SOU MENINO, AVÔ, MALUCO ATÉ
POSSO SER JOÃO, MARIA OU JOSÉ
SOU O PONTO DO CRUZAMENTO.
DURMO ACORDADO E RONCO FALANDO
CORRO, GRITO E PULO
FAÇO FILHO ASSOBIANDO
SOU ARGAMASSA
DE SONHO CARNE E AREIA.
SOU A GENTE SEM BANDEIRA,
O ESPETO, MEU BASTÃO.
O ASSENTO? O VENTO!..
SOU DO MUNDO,NEM DO CAMPO
NEM DA CIDADE,
NÃO TENHO IDADE.
RECEBO E RESPONDO PELAS PONTAS,
PELOS CHIFRES DA NAÇÃO
SOU EXU.
SOU AGITO, VIDA, AÇÃO
SOU OS CORNOS DA LUA NOVA
A BARRIGA DA RUA CHEIA!...
QUER MAIS? NÃO DOU,
NÃO TOU MAIS AQUI

Salvador, 17 de maio de 1993
Mario Cravo

terça-feira, 3 de julho de 2007

Frei Beto e o Deus Negro

Brasil - Trago no sangue uma África. O reboar de tambores, a ponta afiada de lanças, os riscos coloridos realçando a pele e, na boca, o gosto atávico dos frutos do Jardim do Éden. Na alma, as cicatrizes abertas de tantos açoites, o grito imperial dos caçadores de gente, os filhos apartados de seus pais e os maridos de suas mulheres, o balanço agônico da travessia do Atlântico e, nos porões, a morte ceifando corpos engolidos pelo mar e triturados pelos dentes afiados dos peixes. Sou filho de Ogum e Oxalá, devoto de Iemanjá, a quem elevo as oferendas de todas as dores e cores, lágrimas e sabores, o choro inconsolável das senzalas, a carne lanhada de cordas, os pulsos e os tornozelos a ferros, a solidão da raça, o ventre rasgado e engravidado pela feroz pulsão dos senhores da Casa Grande. Restam-me, na cuia de madeira, as sobras do suíno descarnado e, enquanto a mesa colonial saboreia o lombo, rasgo peles e orelhas, refogo em banha o feijão, fatio em paio as carnes, frito lingüiças e torresmos, apimento e condimento, e me empanturro. No alambique, colho a seiva ardente da cana, e me transporto aos ancestrais, às savanas e florestas, ao tempo de imensurável liberdade. Nas noites de Casa Grande vazia e capatazes bêbados, enfeito o meu corpo de tinturas e, espelhado no reflexo da Lua, adorno braços e pernas, cubro-me de colares e braçadeiras e, ao som inebriante do batuque, danço, danço, danço, exorcizando tristezas, exconjurando maus espíritos, imprimindo ao movimento de todos os meus membros o impulso irrefreável do vôo do espírito. Sou escravo e, no entanto, senhor de mim mesmo, pois não há ferrolho que me tranque a consciência nem moralismo que me faça encarar o corpo com os olhos da vergonha. Faço do sexo festa, do carinho, liturgia, do amor, bonança, multiplicando a raça na esperança de quem fertiliza sementes. Dou ao senhor novos braços que haverão de derrubá-lo de seu trono. Comungo a exuberância da natureza, as copas das árvores são meus templos, do fogão de lenha trago as ofertas, em meu ser trafegam, céleres, cavalos alados, e sigo o mapa traçado pelos búzios, que me ensinam que não há dor que sempre dura, mas o verdadeiro amor perdura. Tão povoado é o céu de minhas crenças que não rejeito nem mesmo a santeria do clero. Antes, reverencio o cavalo de são Jorge, transfiro aos altares a devoção aos meus orixás, lanço ao rio a Virgem negra na fé de que, entre tantas brancas, trazidas no andor do senhor de escravos, chegará o tempo em que a minha será Aparecida e, a seus pés, também os joelhos dos brancos haverão de se dobrar. Sou liberto e, no fundo das matas, recrio um espaço de liberdade, defendendo com espírito guerreiro o meu reduto de paz. No quilombo, volto à África, resgato a força mistérica do meu idioma, celebro reisados e congadas, o canto livre ecoando no coro da passarada, as águas da cachoeira expurgando-me de todo temor, as árvores em sentinela cobertas de mil olhos vigilantes. Cidadão brasileiro, ainda luto por alforria, empenhado em abolir preconceitos e discriminações, grilhões forjados na inconsciência e inconsistência dos que insistem em fazer da diferença divergência e ignoram que Deus é também negro.


Frei Betto (Carlos Alberto Libânio Christo),(1945) quando jovem frade dominicano esteve envolvido com as lutas revolucionárias de seu tempo, com a política e a arte. Militante de esquerda, simpatizante da luta armada, se dividia entre os estudos de filosofia, o jornalismo e a assistência de direção de José Celso Martinez Corrêa na histórica montagem de O rei da vela, pelos idos de 1967. É escritor consagrado, com inúmeros livros de sucesso, dentre eles "Fidel e a Religião", coletânea de entrevistas com o líder cubano.

Um inenarrável abraço

Trabalho no Brasil e no Rio de Janeiro




A história do trabalho no Brasil, é uma história de expropriação, violência e exploração. Desde a primeira grande forma de exploração de mão-de-obra, a escravidão na qual o negro não era visto como ser, em sua individualidade, mas sim uma mercadoria.

O escravo era expropriado no produto do seu trabalho e na sua pessoa. Nem sequer podia dispor de si, era propriedade de outro, do senhor, que podia dispor dele como quisesse, declará-lo livre ou açoita-lo até a morte” ( Ianni,O. 1994)

É fácil notar que o aspecto mais marcante das relações de trabalho no Brasil é a exploração da mão-de-obra, que fundamentou uma enorme diferença entre os aspectos sociais e econômicos, ao mesmo tempo em que o Brasil se constituía numa das nações com um dos maiores índices de crescimento econômico no mundo (principalmente no período do milagre brasileiro), tornando-se um país urbano e industrializado.

“Seriam duas sociedades superpostas, mescladas, mas diversas,..., de um lado a moderna sociedade urbana industrial[1], que já é a oitava economia do mundo ocidental e acusa um extraordinário dinamismo. No outro encontra-se uma sociedade primitiva, vivendo em nível de subsistência , no mundo rural, ou em condições de marginalidade urbana, ostentando padrões de pobreza e ignorância” (Ianni,O.,1994)

Característica tão marcante das sociedades capitalistas, porém exacerbada a limites cada vez mais flexíveis no Brasil, a exploração da mão-de-obra em favor do capital (nacional ou não) é um fato histórico do desenvolvimento da nossa sociedade que a cada período é reinventado sob uma nova forma de exploração mais eficiente, em favor do capital e do Estado[2].

Na última década o perfil do mercado de trabalho mantém as marcas da expropriação e exploração da força de trabalho, definidas por um processo de modernização tecnológica que faz com que haja um excesso na oferta de mão-de-obra, que supera a demanda e que foi reprimida pelo processo de modernização produtiva.

A estagnação econômica vivida na década de 80, e a crise inflacionária, fizeram com que empresas reduzissem o número de ocupados por unidade produtiva, recorrendo à contratação de trabalho temporário e à terceirização, para suprir as suas necessidades de mão-de-obra, sem onerar a empresa, ganhando competitividade com menores custos de produção. Apesar dessas transformações o sistema produtivo brasileiro foi capaz de absorver uma população economicamente ativa ( PEA) que se expandiu em média 4% ao ano, isso sem apresentar taxas absurdas de desemprego (comparando com as economias latino americanas). Isto porque dentro desta nova realidade a PEA brasileira, buscou novas formas de inserção no mercado de trabalho, mesmo que em piores condições (quase sempre em piores condições).

As novas tendências do mercado de trabalho brasileiro têm duas lógicas: A primeira é uma estratégia do capital, para uma melhor exploração da mão-de-obra com menores custos e a outra são formas que os trabalhadores encontram dentro dos interstícios da sociedade urbano-industrial para se reproduzir como trabalhadores, em melhores condições. Quais, então, são essas novas tendências do mercado de trabalho brasileiro?


a) crescimento do setor terciário;

b) ampliação do trabalho autônomo;

c) ampliação do emprego feminino;

d) queda do setor primário;

e) queda do número de assalariados.

Dentre as novas características assumidas pelo mercado de trabalho brasileiro na última década, cabe destacar, as duas primeiras características (ampliação do trabalho autônomo e o crescimento do setor terciário), até mesmo porque ambas estão interligadas, pois é claro que o aumento do número de trabalhadores autônomos vai refletir sobre o crescimento do setor terciário.

Segundo o IBGE (PNAD), em 1990, 73% da população ativa estavam incorporados ao mercado urbano, e mais dessa total ocupado em atividades urbanas, metade se ocupa em atividades terciárias. Sendo nos últimos 10 anos a porcentagem de pessoas nesse setor aumentou.


Tabela 4

Distribuição das Pessoas Ocupadas por Setor de Atividade Brasil, em %

Atividade / Ano

1981

1990

Transformação 1

6,0

6,1

Transformação 2

8,9

9,1

Construção Civil

8,1

6,2

Primário

29,3

22,8

Extrativa Mineral

0,6

0,6

Terciário

47,1

55,2

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

Esse inchaço do setor terciário é certamente anormal, alguns chegam a falar em hipertrofia do setor, entretanto países desenvolvidos apresentam taxas de terciarização muito mais intensa, o que nos permite concluir que a hipertrofia do setor terciário não se relaciona ao seu tamanho, mas sim à sua composição, que é formada em grande parte pelo setor informal.

O crescimento do setor terciário da economia brasileira ocorre a partir de duas vertentes: uma pela ampliação dos serviços avançados (principalmente pelos serviços a produção), o que caracteriza um passo em direção de uma sociedade pós-industrial; a outra pela expansão de atividades ditas informais, como comércio ambulante, o que é coincidente com a história de exclusão da sociedade brasileira.

Entretanto, nas últimas décadas, assistimos ao crescimento desse setor de atividade econômica. Esse crescimento é reflexo de três fatores:

a) um constante e gradativo processo de sucateamento da indústria nacional[3] e a própria condição histórica de industrialização, sob o modelo de indústria poupadora de mão-de-obra;

b) o crescimento de serviços modernos, avançados, serviços industriais e financeiros, como ocorre nos países desenvolvidos, que impulsionam positivamente o sistema econômico nacional;

c) a expansão de atividades de baixa “produtividade”, como o trabalhador autônomo, o comércio ambulante e outras formas de sobrevivência de uma parcela cada vez maior da população brasileira.

Se observarmos a composição do setor terciário no Brasil, veremos que, de 1980 à 1990, obtivemos um acréscimo no comércio, que certamente está vinculado ao aumento do comércio ambulante nos centro urbanos:

Tabela 5

Distribuição das pessoas ocupadas dentro do setor Terciário

Atividade/ Ano

1981

1990

Comércio

21,9

23,2

Prestação de Serviços

32,5

32,4

Transp. e Comunicações

10,4

8,0

Atividade Sociais

6,8

7,2

Serviços Públicos

17,0

17,6

Serviços Financeiros

7,1

7,9

Outros

3,6

4,0

Fonte: IBGE, Pesquisa nacional por Amostra de Domicílios, 1990

Dentre os três fatores, cabe a eles diferentes pesos na constituição do setor terciário brasileiro; entretanto, não cabe avaliar o peso maior de um ou outro fator, cabendo sim, entender o crescimento do setor terciário ligado ao crescimento do comércio ambulante, ressaltando a importância do estudo do mesmo.

A pesquisa mensal de empregos realizada pelo IBGE demonstrou que a taxa de desemprego dde 1995 ficou em 4,64% da pea, ou seja, abaixo dos 5,06% do ano anterior. sendo assim, a oferta de emprego aumentou, ainda que em condições mais precárias, pois as oportunidades hoje existentes oferecem piores condições de trabalho (menores salários, menores garantias contratuais e sociais, menor estabilidade, etc.). Um exemplo claro desta depreciação da qualidade do emprego é o aumento do percentuais empregados que não têm carteira assinada, que passou de 23,70% em 1994, para 24,09% em 1995, acompanhado pelo aumento do números de autônomos.

Tabela 6

O mercado de trabalho no Rio de Janeiro (1993-1995)

Categorias / anos

1993

1994

1995

Empregados com carteira assinada

50,52 %

49,24%

48,39%

Empregados sem carteira assinada

23,08%

23,70%

24,09%

Trabalhadores por conta própria

21,09%

21,79%

22,02%







Fonte: O Jornal “O Globo”, 3 de fevereiro de 1996

Entre as 6 principais regiões metropolitanas do país, a que apresenta a menor taxa de desemprego é o Rio de Janeiro, 3,41%, isso em função do crescimento do setor terciário, no qual cabe destacar a importância da economia informal, na qual o comércio ambulante é responsável pela significativa alocação de pessoas.

( OS DADOS ESTÃO DESATUALIZADOS, MAS ACREDITO QUE A REALIDADE NÃOTENHA MUDADO TANTO NESTES ÚLTIMOS ANOS. GOSTARIA DE RECEBER CONTRIBUIÇÕES NOS COMENTÁRIOS QUANTO A DADOS MAIS RECENTES)



[1] TAVARES, M. C. ( 1993), “ ( Des) Ajuste Global e Modernização Conservadora”,Ed.Paz e Terra, Rio de Janeiro, - “ Em média o PIB Brasileiro foi o que mais cresceu na América Latina, na década de 80; a dívida externa e a menor entre os 17 países mais endividados do continente, que apesar da prolongada recessão continua a ter o maior parque industrial do terceiro mundo.”

[2] Mesmo que o Estado, em função da pressão exercida pelos trabalhadores, em determinados momentos históricos, tenha agido como um regulador das formas de exploração da mão-de-obra, favorecendo-os, sob forma de direitos trabalhistas, ele mantém-se vinculado e submetido aos interesses do capital nacional e transnacional. As leis trabalhistas, em face, do sindicalismo ser vinculado ao poder do Estado, eram retrógadas e autoritárias. somente nos meados de 1970, com o surgimento de centrais sindicais autônomas, é que realmente iniciou-se uma pressão sólida em favor dos trabalhadores. Isso constituiu um fator para um processo de industrialização com baixos salários.

[3] Deve-se analisar que apesar da importância dessa variável, na constituiçào do crescimento do setor terciário, o fato do Brasil mesmo com a crise econômica manter uma taxa de crescimento e ter ainda o maior parqur industrial da américa latina, nos leva a penasr que não foi necessáriamente o sucateamento da industria mas sim as transformaçào ocorridas dentro do processo produtivo .

Insegurança do Trabalhador

As mudanças recentes vividas pelo modelo capitalista de produção, apoiadas no discurso Neoliberal e viabilizadas pela revolução técnico-cientifica informacional, tem ocasionado uma série de inseguranças para a classe trabalhadora, tanto em relação ao emprego, quanto aos direitos sociais. Mattoso, aponta 5 (cinco) modificações do mercado de trabalho. É pertinente apresentar um resumo dessas condições, descritas pelo autor, relacionadas ao mercado de trabalho:


a) a insegurança do mercado de trabalho:

É a dúvida quanto à inserção do trabalhador no mercado de trabalho, em função da sobre-oferta de trabalhadores, resultado do processo de reestruturação econômica e industrial, que diminuiu nesta última década os postos de trabalho, se comparados com décadas anteriores. Esta situação agravada com a quebra das políticas sociais Keynesianas, como o seguro-desemprego, o que ocasionou o aumento das desigualdades sociais, a começar pela própria insegurança do trabalhador quanto a pertencer ou não ao mercado de trabalho.


Quadro 1

Taxa de Desemprego e N0 de desempregados

Taxa de Desemprego*

N0 de Desempregados**

Alemanha

0,6

3,1

7,9

6,8

273

876

2258

2038

Áustria

0,9

1,7

3,7

3,2

33

65

135

108

Bélgica

2,4

7,5

13,2

8,1

92

304

545

385

Espanha

1,0

8,6

18,2

17,1

363

1139

2379

2564

EUA

4,9

5,8

9,6

5,3

4365

6137

10717

6528

França

2,7

6,0

8,4

9,4

593

1361

1974

2313

Holanda

1,4

3,5

11,2

7,4

110

280

674

546

Inglaterra

2,1

4,5

11,2

6,2

557

1234

2984

1743

Itália

6,4

7,8

10,0

12,1

1303

1686

2140

2867

Japão

1,3

2,1

2,7

2,3

680

1170

1560

1420

Suécia

2,0

1,7

2,9

1,4

98

88

151

62

Suíça

0,0

0,3

0,8

0,6

0

10

29

17

CEE

2,4

5,5

10,1

9,0

3530

7534

14109

13419

OCDE

3,2

5,2

8,6

6,4

11329

17917

31120

25309

Fonte: OCDE, 1990 e OCDE 1992, p.295, in Mattoso, op cit.

* Em %

** Em milhares

A tabela 1 demonstra as transformações ocorridas entre 1973/1979 e 1983/1989. dividindo a análise em dois grupos observamos em relação ao primeiro período, o segundo apresentou um acréscimo na taxa de desemprego e no número de desempregados, mesmo no Japão onde o desemprego é baixo devido ao sucesso econômico.


b) a insegurança no emprego

Surge em função da desregulamentação das políticas trabalhistas, o que favoreceu os patrões, sendo agora mais fácil a demissão, a utilização de trabalho temporário e de outras práticas que reduzam o custo com mão-de-obra

O capital reestruturado buscou reduzir o tamanho da força de trabalho diretamente empreendido pelas empresas, substituindo o trabalho integral, de longo prazo, pelo contigencial, temporário, part in time.

A redução relativa ou absoluta de empregos estáveis ou permanentes nas empresas, e a maior contratação de trabalhador temporário e estagiários, tem o intuito de reduzir o tamanho da força de trabalho empregada integralmente, o que significa uma redução nos “gastos” com o trabalho, por parte das empresas, já que os trabalhadores temporários entram no mercado de trabalho com menores garantias, ou seja, com piores condições salariais.

A tabela 2 nos demonstra o crescimento continuo do trabalho “partial-time”, mesnmo que essas formas de trabalho já fossem existentes e praticadas entretanto hoje temos o recrudescimento dessas atividades, na medida em que a forma de contratação do indivíduo ocorre em situações mais precárias que no sistema “full-time”.

Tabela 2

Crescimento do emprego total, em tempo integral (full-time) e em tempo parcial (partial-time) nos países membros da OCDE (em %):

1981-1983 1983-1989

EMPREGO TOTAL

0,1

1,6

emprego full-time

-0,5

1,5a

emprego partial-time

3,4

2,1a

Fonte : OCDE,1990, pg24

a crescimento médio anual de 1983-1988

c) a insegurança na renda

A dúvida quanto a entrada no mercado de trabalho ( insegurança do mercado de trabalho e do emprego), concomitantemente com a quebra do compromisso Fordista, dentro do qual os trabalhadores eram vistos como consumidores, gerou uma nova insegurança, a da renda.


Além disso, na década de 80, rompe-se a relação salário produtividade, o que aumentou a insegurança quanto aos rendimentos do trabalho. Nos países desenvolvidos esta situação foi traduzida como uma queda dos custos unitários reais da mão-de-obra, ou seja, os trabalhadores hoje produzem mais e ganham menos, aumentando assim a absorção de mais-valia pelos capitalistas.


d) Insegurança na contratação do trabalho

É o movimento da regulação do trabalho em direção a formas mais promocionais, em contraposição às anteriores tendências coletivas de proteção.

A contratação, a regulamentação e a definição dos salários, ocorriam durante o período Fordista, sob o controle do Estado, que impunha várias práticas que beneficiavam os trabalhadores, ocorrendo a contratação de uma forma coletiva seguindo regras estabelecidas.


Hoje, com a ausência da política Keynesiana, e com o enfraquecimento dos sindicatos, fruto da modernização conservadora, as relações de trabalho se descentralizaram, isso através de um processo que possibilitou que os empresários capitalistas obtivessem uma maior autonomia na defesa de seus interesses.

e) insegurança na representação do trabalho

Em função de tantas “inseguranças” é claro que a representação sai abalada, os sindicatos e as organizações representantes dos trabalhadores perdem seu poder de barganha.

O enfraquecimento do sindicalismo fica expresso pela queda nas taxas de sindicalização, tanto no setor público como privado, pois o sindicalismo já não funcionava como antes, ou seja, o sindicalismo já não é um instrumento efetivo de proteção dos trabalhadores. Este fato cria um círculo vicioso pois quanto mais franco for o sindicato menos trabalhadores a ele se filiarão e quanto menos filiados esse sindicato tiver menor será seu poder de barganha.


O Capital e não o Estado, capitaneia a sociedade capitalista, isso dentro de regras que seguem a livre-concorrência e o mercado auto-regulável, o que ocasiona um enfraquecimento de tendências que busquem uma maior autonomia do trabalhador.


É importante salientar que as novas regras econômicas e de produção atingiram os países e as regiões de formas distintas, assumindo assim especificidades próprias dentro dos Estado-nações ( os países responderam de forma diferenciada ao novo padrão econômico emergente) entretanto é comum a todos os países a revisão do Welfare-State, o que vem causando um aumento das desigualdades sociais.


 
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