terça-feira, 3 de julho de 2007

Trabalho no Brasil e no Rio de Janeiro




A história do trabalho no Brasil, é uma história de expropriação, violência e exploração. Desde a primeira grande forma de exploração de mão-de-obra, a escravidão na qual o negro não era visto como ser, em sua individualidade, mas sim uma mercadoria.

O escravo era expropriado no produto do seu trabalho e na sua pessoa. Nem sequer podia dispor de si, era propriedade de outro, do senhor, que podia dispor dele como quisesse, declará-lo livre ou açoita-lo até a morte” ( Ianni,O. 1994)

É fácil notar que o aspecto mais marcante das relações de trabalho no Brasil é a exploração da mão-de-obra, que fundamentou uma enorme diferença entre os aspectos sociais e econômicos, ao mesmo tempo em que o Brasil se constituía numa das nações com um dos maiores índices de crescimento econômico no mundo (principalmente no período do milagre brasileiro), tornando-se um país urbano e industrializado.

“Seriam duas sociedades superpostas, mescladas, mas diversas,..., de um lado a moderna sociedade urbana industrial[1], que já é a oitava economia do mundo ocidental e acusa um extraordinário dinamismo. No outro encontra-se uma sociedade primitiva, vivendo em nível de subsistência , no mundo rural, ou em condições de marginalidade urbana, ostentando padrões de pobreza e ignorância” (Ianni,O.,1994)

Característica tão marcante das sociedades capitalistas, porém exacerbada a limites cada vez mais flexíveis no Brasil, a exploração da mão-de-obra em favor do capital (nacional ou não) é um fato histórico do desenvolvimento da nossa sociedade que a cada período é reinventado sob uma nova forma de exploração mais eficiente, em favor do capital e do Estado[2].

Na última década o perfil do mercado de trabalho mantém as marcas da expropriação e exploração da força de trabalho, definidas por um processo de modernização tecnológica que faz com que haja um excesso na oferta de mão-de-obra, que supera a demanda e que foi reprimida pelo processo de modernização produtiva.

A estagnação econômica vivida na década de 80, e a crise inflacionária, fizeram com que empresas reduzissem o número de ocupados por unidade produtiva, recorrendo à contratação de trabalho temporário e à terceirização, para suprir as suas necessidades de mão-de-obra, sem onerar a empresa, ganhando competitividade com menores custos de produção. Apesar dessas transformações o sistema produtivo brasileiro foi capaz de absorver uma população economicamente ativa ( PEA) que se expandiu em média 4% ao ano, isso sem apresentar taxas absurdas de desemprego (comparando com as economias latino americanas). Isto porque dentro desta nova realidade a PEA brasileira, buscou novas formas de inserção no mercado de trabalho, mesmo que em piores condições (quase sempre em piores condições).

As novas tendências do mercado de trabalho brasileiro têm duas lógicas: A primeira é uma estratégia do capital, para uma melhor exploração da mão-de-obra com menores custos e a outra são formas que os trabalhadores encontram dentro dos interstícios da sociedade urbano-industrial para se reproduzir como trabalhadores, em melhores condições. Quais, então, são essas novas tendências do mercado de trabalho brasileiro?


a) crescimento do setor terciário;

b) ampliação do trabalho autônomo;

c) ampliação do emprego feminino;

d) queda do setor primário;

e) queda do número de assalariados.

Dentre as novas características assumidas pelo mercado de trabalho brasileiro na última década, cabe destacar, as duas primeiras características (ampliação do trabalho autônomo e o crescimento do setor terciário), até mesmo porque ambas estão interligadas, pois é claro que o aumento do número de trabalhadores autônomos vai refletir sobre o crescimento do setor terciário.

Segundo o IBGE (PNAD), em 1990, 73% da população ativa estavam incorporados ao mercado urbano, e mais dessa total ocupado em atividades urbanas, metade se ocupa em atividades terciárias. Sendo nos últimos 10 anos a porcentagem de pessoas nesse setor aumentou.


Tabela 4

Distribuição das Pessoas Ocupadas por Setor de Atividade Brasil, em %

Atividade / Ano

1981

1990

Transformação 1

6,0

6,1

Transformação 2

8,9

9,1

Construção Civil

8,1

6,2

Primário

29,3

22,8

Extrativa Mineral

0,6

0,6

Terciário

47,1

55,2

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

Esse inchaço do setor terciário é certamente anormal, alguns chegam a falar em hipertrofia do setor, entretanto países desenvolvidos apresentam taxas de terciarização muito mais intensa, o que nos permite concluir que a hipertrofia do setor terciário não se relaciona ao seu tamanho, mas sim à sua composição, que é formada em grande parte pelo setor informal.

O crescimento do setor terciário da economia brasileira ocorre a partir de duas vertentes: uma pela ampliação dos serviços avançados (principalmente pelos serviços a produção), o que caracteriza um passo em direção de uma sociedade pós-industrial; a outra pela expansão de atividades ditas informais, como comércio ambulante, o que é coincidente com a história de exclusão da sociedade brasileira.

Entretanto, nas últimas décadas, assistimos ao crescimento desse setor de atividade econômica. Esse crescimento é reflexo de três fatores:

a) um constante e gradativo processo de sucateamento da indústria nacional[3] e a própria condição histórica de industrialização, sob o modelo de indústria poupadora de mão-de-obra;

b) o crescimento de serviços modernos, avançados, serviços industriais e financeiros, como ocorre nos países desenvolvidos, que impulsionam positivamente o sistema econômico nacional;

c) a expansão de atividades de baixa “produtividade”, como o trabalhador autônomo, o comércio ambulante e outras formas de sobrevivência de uma parcela cada vez maior da população brasileira.

Se observarmos a composição do setor terciário no Brasil, veremos que, de 1980 à 1990, obtivemos um acréscimo no comércio, que certamente está vinculado ao aumento do comércio ambulante nos centro urbanos:

Tabela 5

Distribuição das pessoas ocupadas dentro do setor Terciário

Atividade/ Ano

1981

1990

Comércio

21,9

23,2

Prestação de Serviços

32,5

32,4

Transp. e Comunicações

10,4

8,0

Atividade Sociais

6,8

7,2

Serviços Públicos

17,0

17,6

Serviços Financeiros

7,1

7,9

Outros

3,6

4,0

Fonte: IBGE, Pesquisa nacional por Amostra de Domicílios, 1990

Dentre os três fatores, cabe a eles diferentes pesos na constituição do setor terciário brasileiro; entretanto, não cabe avaliar o peso maior de um ou outro fator, cabendo sim, entender o crescimento do setor terciário ligado ao crescimento do comércio ambulante, ressaltando a importância do estudo do mesmo.

A pesquisa mensal de empregos realizada pelo IBGE demonstrou que a taxa de desemprego dde 1995 ficou em 4,64% da pea, ou seja, abaixo dos 5,06% do ano anterior. sendo assim, a oferta de emprego aumentou, ainda que em condições mais precárias, pois as oportunidades hoje existentes oferecem piores condições de trabalho (menores salários, menores garantias contratuais e sociais, menor estabilidade, etc.). Um exemplo claro desta depreciação da qualidade do emprego é o aumento do percentuais empregados que não têm carteira assinada, que passou de 23,70% em 1994, para 24,09% em 1995, acompanhado pelo aumento do números de autônomos.

Tabela 6

O mercado de trabalho no Rio de Janeiro (1993-1995)

Categorias / anos

1993

1994

1995

Empregados com carteira assinada

50,52 %

49,24%

48,39%

Empregados sem carteira assinada

23,08%

23,70%

24,09%

Trabalhadores por conta própria

21,09%

21,79%

22,02%







Fonte: O Jornal “O Globo”, 3 de fevereiro de 1996

Entre as 6 principais regiões metropolitanas do país, a que apresenta a menor taxa de desemprego é o Rio de Janeiro, 3,41%, isso em função do crescimento do setor terciário, no qual cabe destacar a importância da economia informal, na qual o comércio ambulante é responsável pela significativa alocação de pessoas.

( OS DADOS ESTÃO DESATUALIZADOS, MAS ACREDITO QUE A REALIDADE NÃOTENHA MUDADO TANTO NESTES ÚLTIMOS ANOS. GOSTARIA DE RECEBER CONTRIBUIÇÕES NOS COMENTÁRIOS QUANTO A DADOS MAIS RECENTES)



[1] TAVARES, M. C. ( 1993), “ ( Des) Ajuste Global e Modernização Conservadora”,Ed.Paz e Terra, Rio de Janeiro, - “ Em média o PIB Brasileiro foi o que mais cresceu na América Latina, na década de 80; a dívida externa e a menor entre os 17 países mais endividados do continente, que apesar da prolongada recessão continua a ter o maior parque industrial do terceiro mundo.”

[2] Mesmo que o Estado, em função da pressão exercida pelos trabalhadores, em determinados momentos históricos, tenha agido como um regulador das formas de exploração da mão-de-obra, favorecendo-os, sob forma de direitos trabalhistas, ele mantém-se vinculado e submetido aos interesses do capital nacional e transnacional. As leis trabalhistas, em face, do sindicalismo ser vinculado ao poder do Estado, eram retrógadas e autoritárias. somente nos meados de 1970, com o surgimento de centrais sindicais autônomas, é que realmente iniciou-se uma pressão sólida em favor dos trabalhadores. Isso constituiu um fator para um processo de industrialização com baixos salários.

[3] Deve-se analisar que apesar da importância dessa variável, na constituiçào do crescimento do setor terciário, o fato do Brasil mesmo com a crise econômica manter uma taxa de crescimento e ter ainda o maior parqur industrial da américa latina, nos leva a penasr que não foi necessáriamente o sucateamento da industria mas sim as transformaçào ocorridas dentro do processo produtivo .

Um comentário:

Ensino,religião e política. criticas. disse...

AS LEIS TRABALHISTAS.

As leis trabalhistas são um avanço ou um fracasso? Eu acho que no passado foram um avanço, hoje na atual conjuntura com a falta de emprego causada pelo avanço da tecnologia estas leis, não todas, mas muitas delas se tornaram retrógradas e perniciosa para todos. Digo isso porque sei que existem milhares de empregos espalhados por todo o Brasil, empregos estes que estão ocultos por medo dos mais variados problemas, que são causados por leis trabalhistas extremamente rígidas. Também por excessos de vantagens para os trabalhadores e pelos excessos de impostos que recai sobre o empregador. Alem de todos estes problemas que aparecem durante o contrato trabalhista, mesmo depois de te pago todos os direitos do trabalhador, o empregador ainda corre o risco de ter que enfrentar processos trabalhistas muitas vezes injustos, diante disso o pequeno empregador, sem os recursos que dispõe as grandes empresas, se sente encurralado sem coragem de contratar, mesmo estando necessitando de um auxiliar em seu pequeno estabelecimento. Este peso que recai sobre quem contrata, só pode ser suportado por empresas que trabalham com produtos de muita aceitação e que o mesmo pode ser reajustado todas as vezes que nossa moeda for desvalorizada. O coitado do pequeno empresário que sofre o peso violento da concorrência, muitas vezes desleal, diante desta realidade não podendo reajustar seus preços não tem a mínima condição de arriscar a empregar alguém, mesmo estando precisando. Sei que ninguém vai me apoiar nesta idéia, mas atentem para o seguinte fato, se o governo liberasse aos pequenos empresários, o direito de contratar funcionários sem nenhum vinculo empregatício por um ano, com esta medida surgiriam milhares de vagas, estes trabalhadores novos seriam também novos consumidores que iriam aquecer a industria e também o comércio, depois de um ano o mercado já estando mais aquecido, estes pequenos empregadores poderiam dispensá-los, ou contratá-los na lei antiga, ou ainda o governo poderia criar uma lei especifica e mais humana para os pequenos empresários, dando a eles a oportunidade de manter a oferta de emprego a qual o nosso país tanto precisa.
Da maneira que esta com estas leis trabalhistas muito rígidas, só posso dizer parabéns a quem criou leis tão maravilhosas para os trabalhadores, parabéns por conservá-las, parabéns para todos os sindicatos que as defendem, todos estão muito certo, isso e ótimo só que todos estes seguimentos de defesa dos trabalhadores esqueceram de uma coisa muito importante: se esqueceram de criar leis para proteger o coitado do desempregado. Isso é uma grande injustiça, porque enquanto os trabalhadores que têm seus empregos garantidos com todas as vantagens, tais como, registros em carteiras, seus sagrados salários, e alem disso recebem cestas básicas, vales transporte, vales refeição, e o coitado do desempregado recebe o que? Recebe sim uma coisa, uma porta na cara quando procura por um emprego. Alem de todas estas desgraças por que passa o infeliz desempregado, ainda tem uma agravante, porque existem dois tipos de desempregados, os que têm experiência e os que não têm, os que não têm experiência estão mais jogados para as traças, porque os pouquíssimos empregos que ainda existem só são ofertados a quem tem experiências, sendo assim onde estes pobres infelizes e inexperientes desempregados irão buscar seu lugar ao sol., esta é a pergunta que faço a todos dirigentes sindicais e a todos homens que dirigem esta nação, repetindo a insistente pergunta, onde estes infelizes e inexperientes desempregados irão buscar o seu lugar ao sol. Onde?

Esta crônica foi extraída do livro, Crônicas indagações e teorias, autor Paulo Luiz Mendonça. Editora Scortecci.

 
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