terça-feira, 3 de julho de 2007

Mudanças na sociedade do trabalho




O mundo assistiu na década de 80 diversas transformações, caracterizadas como uma nova revolução industrial, que vem a sobrepor antigas estruturas que sustentavam o capitalismo, ocasionando o fim de antigas práticas, remodelando algumas, ressuscitando outras.


O capitalismo do pós-guerra sustentava-se sobre o pensamento hegemônico da lógica Keynesiana-Fordista, onde se tinha um modelo que combinava o consumo e a produção em massa, estruturando uma sociedade que fundamentava seus valores através dos objetos conquistados, ou melhor, adquiridos e consumidos. De acordo com este modelo a satisfação individual concretizava-se ( e ainda se concretiza) pela aquisição de produtos.

Algumas características assumidas pelo capitalismo neste período devem ser ressaltadas, para uma melhor compreensão das relações de trabalho e o emprego da mão-de-obra neste período:

Uma legislação social referente ao salário mínimo, à generalização das convenções coletivas induzindo todos os patrões a conceder aos assalariados ganhos anuais de poder aquisitivo correspondentes ao crescimento da produtividade nacional; Um Estado-providência, um sistema de previdência social desenvolvido, permitindo aos assalariados ( e, de fato, a toda população) continuar como consumidores, até no caso de estarem impedidos de trabalhar devido a doenças, aposentadoria, desemprego, etc.; Uma moeda de crédito ( isto é, pura moeda de papel) emitida pelos bancos privados, em função das necessidades da economia ( e não mais em função do estoque de ouro disponível ), mas sob o controle dos bancos centrais ( LIPIETZ,1995).”

Os benefícios sociais nos países capitalistas se reforçaram neste período em função do quadro político internacional, vivíamos num quadro de guerra fria, marcada pelo antagonismo capitalismo-socialismo, que ditava as atitudes dos líderes mundiais e as regras do capital. A existência do regime socialista pressionava o capital a conceder benefícios aos trabalhadores, entretanto, isso não aconteceu calmamente; ao contrário, lutas, reivindicações e pressões sociais foram necessárias nos países capitalistas, para que esses benefícios fossem efetivamente adotados.

Entretanto, o modelo Keynesiano-Fordista começou sua crise a partir da 2a metade da década de 60, enquanto os ganhos da produção começavam a baixar, e o ganhos em salário real mantinham-se, e o investimento em capital fixo que devia ser imobilizado aumentava cada vez mais em relação ao número de assalariados. Soma-se a esses fatores a microeletrônica, a globalização do capitalismo e mais recentemente o fim do socialismo real.

Um novo modelo surge para superar a crise e substituir o Fordismo, o Pós-Fordismo que tem como base o discurso político-ideológico Neoliberal, que marcou fortemente a década de 80, quando assistiu-se a um fortalecimento político da direita. Sob o ponto de vista econômico optou pela adoção de planos ortodoxos, que exercem pressão negativa sobre os salários, o arroxo salarial. Iniciou-se um período de Modernização Conservadora3, onde tivemos avanços tecnológicos e organizacionais, porém, com retrocessos sociais, implícitos ao discurso Neoliberal ( Pós-Fordista ) implementado em diversos países na década de 80, como os EUA (governo Ronald Regan) e a Inglaterra (governo Thatcher) é o seguinte:

“ Há uma ‘revolução tecnológica’ em curso. Mas nos anos 70, o ‘rigor’ imposto pelo Estado e pelos sindicatos - a legislação social, o Estado-providência, as normas antipoluição, etc. - bloquearam seu livre desenvolvimento, ao privar as empresas de capacidade financeira, ao impedir as ‘dolorosas mas necessárias mutações’. Logo livremo-nos desses rigores” ( LIPIETZ,1991)

Para conseguir esse “livre-desenvolvimento” os direitos sociais alcançados pelos trabalhadores tendem a ser revogados, buscando sempre uma maior competitividade das economias nacionais, junto ao mercado internacional, tentando uma melhor forma de inserção na economia-mundo, ou seja, uma melhor qualidade e um menor custo dos seus produtos e serviços, sendo isso conseguido somente pelo advento da revolução técnico-científica que vivenciamos hoje.

Cabe lembrar que no sistema capitalista de produção, a quantidade de mão-de-obra absorvida pelo mercado de trabalho, ou melhor, o número de indivíduos empregados está relacionado com a demanda de mão-de-obra que é necessária à produção de bens e serviços, que além do seu valor de uso, possuem um determinado valor de troca, sendo essas mercadorias vendidas para o mercado e não para o autoconsumo; sendo assim, é fácil entender porque as modificações no processo produtivo (na demanda de mão-de-obra) vão repercutir sobre o mercado de trabalho e sobre o emprego.



[1] Deve ser entendido como qualquer atividade humana, que demanda força de trabalho; que demanda queima de calorias;que demanda esforço físico ou intelectual, podendo ser ou não remunerado.

[2] Cargo, função, ocupação em um serviço particular, no qual se tem um trabalho específico e remunerado.

3 TAVARES, M. C. ( 1993), “ ( Des) Ajuste Global e Modernização Conservadora”,Ed.Paz e Terra, Rio de Janeiro, Modernização Conservadora foi o termo adotado por Barrington Moore para designar o modelo autoritário de desenvolvimento do capitalismo retardatário do século XIX que inclui experiências bem-sucedidas na Alemanha e no Japão. Neste final do século XX, esses foram também os dois países que obtiveram os resultados mais eficientes na gestão de suas empresas, na difusão de padrões de consumo e na educação em massas. Esse sucesso, no entanto, não pode ser explicado apenas pelas suas raízes autoritárias, presentes ainda hoje, ou pela democratização posterior de suas sociedades. A integração orgânica entre a grande empresa, os bancos e o aparelho do Estado Nacional, dentro da tradição da modernização conservadora do final do século XIX, continuou sendo base do moderno capitalismo avançado.,..., Por outro lado, uma visão liberal conservadora aplicada às relações industriais entre o capital e o trabalho produziu uma considerável heterogeneidade nos mercados de trabalho e a rejeição das políticas de bem-estar minou os fundamentos de justiça social e igualdade de oportunidades no interior de suas sociedades nacionais”

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