sábado, 24 de março de 2007

Dia 20 de novembro


A revista Carta Capital publicou um artigo intitulado " A cor faz a indiferença" , onde alguns dados interessantes são apresentados sobre "consciência" negra. A publicação mostra que, segundo uma pesquisa realizada pelo IBASE, muitos tentam escapar da sua própria "cor", como se isso significasse um distanciamento do preconceito. Em pesquisas como a do IBGE, são os entrevistados que respondem sua cor. No levantamento do IBASE, os entrevistadores foram orientados a perguntar a respeito da cor e depois fazer a sua própria avaliação. Entre aqueles identificados pela cor preta, 30% declararam-se pardos. O comportamento repetiu-se. Dos que disseram ser brancos, 30% eram pardos.Fica muito claro que parte da população afrodescendente tem dificuldade de identificar-se com as suas origens e raízes. Cada vez mais assistimos a negros tristemente embranquecidos culturalmente. Não que todo negro tenha que gostar de samba, jongo, lundu, capoeira ou mesmo tenha que seguir uma religião afro-brasileira; entretanto, é necessário primeiro reconhecer a si mesmo como negro e compreender e valorizar as manifestações culturais afro-brasileiras. Acredito que o resgate da auto-estima e da própria capacidade de se aceitar como negro passa pelo conhecimento da riqueza cultural herdada dos nosso ancestres africanos.No dia de hoje, não consigo esquecer o termo usado pelo mestre Abdias do Nascimento, em uma entrevista. Ele afirmou que o Brasil está repleto de "negros-jabuticabas", referindo-se aos negros que são como a simpática fruta oriunda da mata atlântica, pretos por fora mas brancos por dentro.Neste ano o dia 20 de novembro caiu numa segunda-feira, o dia votivo de Elegbara. Zumbi do Palmares assim como Exu faz com fantástica e necessária frequência, subverteu a ordem estabelecida e desafiou os detentores do poder. Mostrou a força de um povo oprimido que foi desterritorializado, explorado, dominado e, mesmo assim, recriou seu espaço, resgatou seus valores e organizou, como Nei Lopes diz, o primeiro estado livre do Brasil. Este certamente nunca foi um "negro-jabuticaba", não se deixou contaminar, não se rebaixou e orgulhoso de si e dos seus foi capaz de desafiar toda uma nação.
Um inenarrável abraço.
Modupé.... Moforibalé Zumbi

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