sábado, 24 de março de 2007

Fundamentalismo Democrático

Os termos fundamentalismo e democracia apresentam uma contradição entre si, já que o fundamentalismo é a interpretação literal dos textos sagrados e sua aplicação cega e a democracia, filha da razão grega, sustenta-se no diálogo, onde, de maneira geral, os representantes se identificam com os interesses de uma classe ou grupo social específico e sustentam diferentes opiniões a respeito de como se devem solucionar os problemas.
O escritor e jornalista espanhol Juan Luis Cebrián escreveu, em 2004, um ensaio intitulado O fundamentalismo democrático, onde tece fortes críticas ao governo conservador de Aznar (1996-2004), que, segundo o jornalista, caracterizou-se por adotar a democracia como bandeira política, mas, paradoxalmente, a desfigurou enquanto modelo de convivência política. Neste âmbito, o discurso plural e democrático esconde um pensamento e uma prática totalizante (para não dizer totalitária), muito semelhante a algumas posturas religiosas que são incapazes de dialogar com a diversidade e de aceitar a diferença, fortemente apoiadas na crença da sua superioridade moral, que permitiria julgar e condenar os outros.
O conceito de Cebrián se aplica com exatidão ao governo Bush, que não somente assume uma postura fundamentalista, mas messiânica, tendo o apoio maciço dos católicos e protestantes de seu país. No último pleito norte americano, o candidato democrata John Kerry fazia questão de separar religião de política. Enquanto isso, Júnior fazia o inverso, invocando um conservadorismo puritano, que prega a retomada dos valores morais, onde se consolida uma ideologia de direita cristã evangélica.Além da luta contra o terror, outras bandeiras conservadoras são levantadas pelo atual governo norte-americano: a oposição ao aborto e ao casamento homossexual e a defesa da pena de morte; dentre outras. No plano internacional, essa doutrina unilateral já demonstrou seus efeitos perversos: o desprezo ao Tratado de Kioto, a injustificável invasão ao Iraque, o esvaziamento da ONU, a situação da Coréia do Norte, a invasão ao Afeganistão e os presos em Guantanamo. E a lista continua...
O quadro que se coloca é de um poder que se exacerba, tornando-se cada vez mais arrogante e propenso a converter amigos em adversários e adversários em inimigos, de acordo com uma lógica excludente: “ ou comigo ou contra mim”.Os efeitos de visões totalitárias e conservadoras são bem conhecidos ao longo da história, bem como os do fanatismo religioso. Essa concepção societária está presente não só nos EUA, mas em todo mundo, de forma mais ou menos explicita. Devemos estar atentos aos discursos políticos moldados na fé e na autoridade moral (hipócrita!!).Até que ponto estamos distantes deste perigo? Quantos de nossos políticos e religiosos, comumente os dois, não seguem e reproduzem essas idéias? Como evitar e combater os dogmáticos e crentes do caminho único, seja ele religioso ou político?
Vamos aguardar pra ver...
Um inenarrável abraço

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