A Geografia do Voto
O jornal Mundo publicou uma interessante matéria analisando uma pesquisa do Ibope, sobre a eleição presidencial. Segue um resumo com algumas interveções minhas (entre parênteses).
Geografia e sociologia do Voto Lulista
Duas semanas antes de primeiro de Outubro, as pesquisa de opinião divulgadas pelos principais institutos apontavam a tendência da reeleição do presidente Lula ainda no primeiro turno. Mas, sobre tudo, revelavam as identidades regionais e sociais do voto em Lula.
A pesquisa Ibope de projeção de um hipotético segundo turno, publicada dia 11 de setembro, oferece dados discriminados por região e faixa de renda. Segundo essa pesquisa, Lula perdia para Alckmin apenas na região Sul. ( fato confirmado - Alckmin ganhou em todos os estados na região Sul.) Na região Sudeste, registrava-se um empate técnico. (na verdade Lula só perdeu no Estado de São Paulo). No Norte/Centro-Oeste, Lula abria folgada vantagem e, no Nordeste, o presidente parecia disputar sozinho a eleição. (confirmadíssimo).
A força eleitoral do Lula no Nordeste resulta de uma combinação de fatores estruturais e conjunturais. Na região mais pobre do país se concentraram os investimentos dos programas sociais federais: Bolsa Família, Luz para Todos, crédito agrícola e outros.Nos últimos anos a economia regional cresceu em ritmo apenas levemente superior à média brasilera, mas a injeção de recursos federais, especialmente através do Bolsa Família, provocou forte aumento do consumo das famílias mais pobres, que ampliaram as compras de alimentos perecíveis, material de limpeza, higiene pessoal, perfumes, cosméticos e eletrodomésticos. (...)
Segundo pesquisas de mercado, cerca de 60% dos seus habitantes passaram a consumir mais desde que passaram a receber as rendas do Bolsa Família.A pesquisa do ibope oferece mais que uma visão regional do voto lulista. O eleitorado do presidente concentra-se marcadamente, entre os mais pobres. Na faixa de renda de até um salário mínimo, Lula tinha dois terços das inteções de voto. Um empate técnico se registrava entre os eleitores de renda média. Alckmin vencia com folga na faixa de mais de 10 salários mínimos (...)
A sociologia do voto também tem uma dimensão espacial. Enquanto a disputa não parece tão desigual nos municípios das capitais, a vantagem de Lula era acachapante nos municípios periféricos das metrópoles e nas cidades do interior.Nos discurso do intelectuais petistas, a distribuição social e geográfica do voto tornou-se uma "prova" do suposto caráter progressista do governo Lula e de uma 'identidade de classe" da política do presidente. Naturalmente, no discurso dos partidos de oposição, ressurgiram as velhas teses emboloradas segundo as quais os pobres "não sabem votar". (Sempre que os pobres discordam, fazem porque são burros ou manipulados. É assim que "eles" pensam.) Os dois argumentos são falsos. Todos, pobres e ricos, votam nos candidatos que parecem, numa determinada conjuntura política, correspnder melhor a suas expectativas de futuro. A revolta ou o desencanto vêm depois - e isso também vale para eleitores de todas as camadas sociais. Fernando Collor foi eleito com ampla maioria entre os pobres. Fernando Henrique foi eleito e reeleito com votações consagradoras nas faixas inferiores de renda.
Lula venceu em 2002 batendo facilmente Serra no voto da população pobre. Em si mesmo, o apoio dos que tem menos renda nada diz sobre a orientação política e econômica dos governos ou candidatos. O que não significa, é claro, que a distribuição social do voto seja irrelevante.Mas o que distingue essa eleição é a concentração regional e social inédita do voto em determinado candidato. Lula aparece como uma espécie de unanimidade no Nordeste e nas faixas inferiores de renda. A rejeição ao preseidente é um fenômeno do Centro-Sul e das camadas médias. ( na verdade uma rejeição de São Paulo e do Sul, já que ele venceu em todo o Sudeste menos no referido estado) A combinação, um convite ao salvacionismo e ao caudilhismo, não parece auspiciosa para o jogo da democracia.
Jornal Mundo - Outubro de 2006Será que a Geografia do voto reflete uma descentralização da ação política e social do atual governo?
Um inenarrável abraço
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